Bordão 28 Novembro

I DOMINGO DO ADVENTO
Is 2, 1-5; Sl 121; Rom 13, 11-14; Mt 24, 37-44

Vós sabeis em que tempo estamos: Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçámos a fé. A noite vai adiantada e o dia está próximo. Abandonemos as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, evitando comezainas e excessos de bebida, as devassidões e libertinagens, as discórdias e ciúmes; não vos preocupeis com a natureza carnal para satisfazer os seus apetites, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo. (Romanos)

Jesus disse aos seus discípulos: «Como aconteceu nos dias de Noé, assim sucederá na vinda do Filho do homem. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou. Assim será também na vinda do Filho do homem. Então, de dois que estiverem no campo, um será tomado e outro deixado; de duas mulheres que estiverem a moer com a mó, uma será tomada e outra deixada. Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso, estai vós também preparados, porque na hora em que menos pensais, virá o Filho do homem. (Mateus)

A perigosa rotina da normalidade
Iniciamos este Domingo um novo ano litúrgico, em que o Evangelho das missas é normalmente tirado do evangelho de S. Mateus.

Curiosamente, a liturgia deste primeiro Domingo do ano vai buscar um texto ao último discurso de Jesus, que ainda há duas semanas líamos em S. Lucas, quando Ele falava da destruição do templo.

Em Mateus, este último discurso de Jesus é muito mais longo, porque Mateus estrutura o seu evangelho em cinco discursos, depois de cada um dos quais coloca um conjunto de milagres que mostram a eficácia dessas palavras proferidas por Jesus.

Mateus pretende também afirmar, vigorosamente, que aquela expectativa de um fim imediato do mundo por alturas em que escreveu o seu evangelho era infundada. Mas, por outro lado, apressa-se a esclarecer que o facto do fim do mundo não ser já para aqueles dias não justifica que os cristãos entrem em desleixo na procura da virtude. Pelo contrário, sendo todos os sinais exteriores de normalidade, antes se deve reforçar a atitude de vigilância para permanecermos firmes nas exigências da fé cristã. De facto, não há nenhuma acusação moral na expressão “comiam e bebiam, casavam e davam em casamento”, mas apenas essa nota de normalidade, de rotina, de mediania existencial. Uma rotina que leva ao desleixo das preocupações com Deus e com os outros.

A vigilância a que Jesus apela não é, pois - como o estilo apocalíptico poderia dar a entender - uma vigilância sobre o dia do fim do mundo, mas sobre o dia-a-dia comum e banal. É nesse dia a dia, em qualquer dia da nossa vida e todos os dias, que Jesus passa por nós, nos exorta, nos convida, nos toma. E o importante, já agora, é sermos tomados por Ele e não deixados. A vigilância é essa virtude que perscruta os sinais de Deus na história do mundo e na nossa vida particular, para percebermos onde Jesus está e não deixarmos passar sem que nos tome.

S. Paulo, diferentemente de Mateus, já põe em relevo desvios morais (obras das trevas) de uma vida desatenta aos sinais de Deus (de uma vida deitada no “sono”): comezainas, excessos de bebida, devassidões, libertinagens, discórdias, ciúmes. S. Paulo fala destes desvios escrevendo aos cristãos de Roma, capital do império e, na visão cristã primitiva, capital do pecado, do anti-Cristo.

Sem dramatizar, podemos perguntar-nos se hoje não corremos também o risco de cair em sonos que geram “obras das trevas”. Por exemplo, este consumismo desenfreado no tempo de natal evoca prioritariamente “preocupações de natureza carnal” ou “revestimento das armas da luz”? Ou fazendo a pergunta de outro modo: neste tempo de natal haverá alguma diferença entre o consumo dos cristãos e o consumo dos não cristãos?! É possível estarmos vigilantes no meio deste consumismo?! A passagem do Filho do homem neste tempo litúrgico tão especial vai deixar-nos ou levar-nos com Ele?

A vigilância a que apela o evangelho, nas modernas sociedades de consumo e em tempo de Natal, passa certamente por aqui.


Como é que eu posso chegar até Deus?


Talvez seja um pormenor, mas hoje quero pensar nisto convosco.
Será que eu posso chegar até Deus? Serve a vida para caminhar até Ele? Será o próprio Deus que vêm até nós? Ou será um ‘a meio caminho’ entre o Céu e a Terra? Onde é que está Deus?
Às vezes num discurso mais teológico dizemos que Deus é Transcendência (normalmente afirmando-se como o contrário da imanência). Ultimamente tenho andado a pensar neste ‘para além de’. E tenho tido algumas dificuldades e sentido até alguma incoerência no ‘discurso’.
Escutando Juan Masiá (professor de Antropologia Filosófica em Tokio nos últimos 30 anos), reflecti sobre dois modos diferentes de colocar esta mesma questão. Uma seria trans-ascendência (uma perspectiva mais ocidental) e outra seria a trans-descendência (uma visão mais oriental).
Se pensamos e vivemos o divino como uma trans-ascendência então Deus é mais uma conquista do Homem. Se colocarmos a questão mais numa perspectiva de trans-descendência então Deus é mais uma descoberta (des-coberta = tirar aquilo que cobre).
Nesta última abordagem Deus aparece como sendo ‘natural’ (enquanto constitutivo), enquanto se voltarmos às categorias da trans-ascendência Deus aparece mais como ‘sobre-natural’ (uma espécie justa-posição ou de imput a posteriori).
Ainda que este raciocínio possa parecer complexo, trata-se simplesmente de pensar (e viver) Deus como Aquele que vem (permanentemente) ao encontro do Homem. De facto, é Deus quem nos ama em primeiro lugar, é Ele quem toma a iniciativa (1 Jo. 4, 10).
Deus, naquilo que a teologia chama amor kenótico, faz-se Homem e vem habitar a história que somos (Jo. 1, 14). Este Deus que toma a iniciativa de habitar connosco é o mesmo que quer ficar connosco até ao fim dos tempos (Mt. 28, 20). Por isso, é que o nome d’Ele é anunciado como o Emanuel – isto é, ‘Deus connosco’ (Mt 1, 23).
Os verbos (as palavras de Deus na boca dos profetas) deram lugar ao Verbo (o próprio Deus comunicado – A Palavra). Verbo esse que se fez humanidade. A este propósito diz a Bíblia: ‘Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho…» (Heb. 1, 1-2).
Todos estes pensamentos podem ser uma boa oportunidade para começar a preparar o nosso coração para o Natal. O tempo de Advento é o tempo de criar condições para que Ele – chegada a hora – possa encontrar lugar para nascer. Eis o verdadeiro desafio da Incarnação. Eis o sentido mais profundo do Natal.

Nuno Santos



Missas da Semana


Dia 30 – 3ª Feira
18h00 – Igreja da Rainha Santa Isabel, seguida de atendimento.

Dia 02 – 5ª Feira
18h00 – Igreja da Rainha Santa Isabel, seguida de atendimento.

Dia 03 – 6ª Feira
18h00 – Igreja da Rainha Santa Isabel, seguida de atendimento.

Dia 04 – Sábado
16h30 – Missa vespertina, na Igreja da Rainha Santa Isabel.


Missas de Domingo

Dia 05 de Dezembro
09h00 – Capela da Cruz dos Morouços
09h30 – Capela das Lages
10h00 – Capela do Bordalo
11h00 – Igreja da Rainha Santa Isabel
21h00 – Início do tríduo, em honra de Nossa Senhora, com reza do terço na Capela da Senhora da Conceição, no Bordalo.


O Pároco
Padre António Sousa