Bordão 11 Abril

II DOMINGO DA PÁSCOA
Act 5, 12-16; Sl 117; Ap 1, 9-11a.12-13.17-19; Jo 20, 19-31

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. (João)

Jesus de Nazaré é o Filho de Deus
Esta aparição aos Onze é testemunhada por todos os evangelistas e por S. Paulo, ainda que com diferenças claras: em Marcos é um resumo já acrescentado posteriormente ao evangelho a partir do relato dos outros evangelhos; em Mateus teria acontecido na Galileia; em Lucas teria sido em Jerusalém; e em João é desdobrada em duas aparições. Apesar destas diferenças, o fundo histórico da aparição aos Onze é sustentável, sendo de reter, do ponto de vista puramente histórico, o mais antigo testemunho bíblico das aparições: “apareceu a Cefas e depois aos Doze” (1 Cor 15, 5). As diferenças de cada evangelista justificam-se, depois, sobretudo por razões da teologia e interesse catequético próprios de cada um deles.

Quanto ao relato de S. João, que lemos hoje, devemos antes de mais lembrar-nos que ele escreve o seu evangelho em contexto de forte polémica com algumas seitas cristãs já existentes. A polémica circula à volta da divindade de Jesus, o que inclui naturalmente a ressurreição. Para essas seitas, Jesus teria sido um mensageiro especial de Deus, o Eleito de Deus, confirmado como tal no baptismo do Jordão, mas não passava de um homem, cuja missão (Eleição) acabara na cruz. Neste caso, não havia Cristo nenhum, ou a haver um Cristo, um Senhor, um Ungido, seria “alguém” desvinculado de Jesus de Nazaré.

Neste contexto, S. João vai afirmar essencialmente quatro coisas: que Jesus ressuscitou mesmo; que o Cristo da fé é o próprio e mesmo Jesus histórico; que há um elo de continuidade entre o Jesus histórico e o Cristo da fé que nenhuma barreira, nem sequer a morte, consegue vencer; que o Espírito Santo é uma Pessoa diferente de Jesus e que é dado por Jesus.

No fundo, é para vincar esta unidade entre o Jesus histórico e o Cristo da fé que João desdobra a aparição aos Onze em duas aparições. Na “primeira”, afirma duas coisas: i) que Jesus ressuscitou efectivamente, que não foi abandonado por Deus na morte; ii) que o Cristo ressuscitado cumpre todas as promessas do Jesus histórico. Como diz a nota de rodapé da Bíblia (ed. dos Capuchinhos), João mostra como Jesus cumpre todas as promessas que tinha feito aos discípulos nos discursos de despedida: tinha dito “Eu voltarei a vós (Jo 14,18) e agora “pôs-se no meio deles”; tinha dito “um pouco mais, e por fim me vereis” (Jo 16,16) e agora “encheram-se de alegria por verem o Senhor”; referindo-se ao Espírito Santo, tinha dito “eu vo-lo enviarei” (Jo16,7) e agora diz “recebei o Espírito Santo”.

Na segunda parte do desdobramento, centrada na incredulidade de Tomé, João dirige-se como que explicitamente a todos os cristãos incrédulos da ressurreição de Jesus (aqueles com quem estava em polémica) e reafirma a mesma identidade do Jesus histórico e do Cristo da fé, recorrendo à marca mais distintiva do Cristo histórico: as feridas físicas da Sua paixão e morte, que continuam a ser “o bilhete de identidade” do Ressuscitado.

Citando o próprio João, escreveu assim para “acreditarmos que Jesus (o Jesus histórico com quem ele conviveu) é o Messias, o Filho de Deus”.



Os novos «fariseus»!

Os desenvolvimentos noticiosos a propósito dos casos de pedofilia na Igreja fizeram-me vir à memória o Evangelho do V Domingo da Quaresma, do presente ciclo litúrgico, que nos coloca perante a mulher adúltera e o Jesus misericordioso. Já por si seria elucidativa esta formulação, ainda que eu não seja favorável a qualquer forma de impunidade, quando ela, naturalmente, se justifica. Todavia, a justiça de Deus não deixa de ser diferente da dos homens – aquela visa eficazmente a verdadeira e total reabilitação do ser humano, sem se deter nos meandros dos seus limites ou das suas justificações.

Mas o episódio veio-me à mente não por causa destes primeiros enunciados; antes pelo facto de a apresentação da mulher a Jesus nada ter a ver com o seu processo condenatório (os fariseus e os escribas conheciam bem a lei mosaica!), mas sim devido à pretensão de apanharem Jesus em falso e terem forma de O acusar. Na verdade, aqueles fariseus e escribas, conhecedores da lei, usaram a mulher como instrumento dos seus intentos. Em certo sentido, «prostituíram-na» de novo, para alcançarem agora os seus objectivos. De pouco importava a mulher e a sua situação; importante, repitamo-lo – como claramente refere São João – era apanhar Jesus em falso.

Hoje, os novos «fariseus» e «escribas», do nosso tempo (que nem sequer se podem apelidar de justos, à imagem daqueles de outras eras!), também não parecem querer preocupar-se com as crianças vítimas de abusos, nem verdadeiramente com as suas histórias. Têm em vista ferir de morte o coração da Igreja, desacreditando-a e retirando força à sua mensagem perene. As crianças – adultos, muitas delas, hoje – são como peões nas suas mãos em vista de objectivos bem menos claros; quantas vezes encapotados, sob o manto de uma certa moralidade ou justiça para a qual se sentem mandatados. Também aqui as crianças e os seus dramas parecem contar muito pouco à imagem da mulher do Evangelho! São instrumentos de uma ideologia que pretende varrer tudo o que se oponha a estes novos «fariseus». Só à luz desta atitude se entendem os desenvolvimentos dos factos relativos à pedofilia: se eles foram reais e, portanto, notícia, no momento oportuno – com a Igreja a tomar o pulso à sua realidade e a tomar as medidas necessárias –; já não se entende a obsessiva permanência noticiosa dos factos e as novas pretensões agora aduzidas. Ou seja, após reacção vigorosa do Papa, é a sua cabeça que agora se pede. Um jornal diário, neste dia em que escrevo este apontamento, chegou a reproduzir a indicação de alguém que afirmava que o Papa devia demitir-se devido a tais escândalos! Afinal, qual é a pretensão? Ela é evidente: chegar ao Papa, desacreditá-lo no seu ministério petrino, desapossá-lo da sua legitimidade moral, mediante a qual continua a exercer a missão eclesial que lhe foi confiada! Aliás, esta mesma orientação foi seguida claramente por um alinhamento noticioso, de um dos nossos canais televisivos, concretamente a propósito da homilia do Papa, na Missa de Domingo de Ramos, cuja colagem da problemática da pedofilia às suas palavras em nada – absolutamente – tinha a ver com o que naquele contexto era meditado. Ou seja, se o Papa não fala, fazemo-lo falar, seja qual for o recurso a interpretações verdadeiramente arbitrárias de que se faça expediente. A intenção era clara: introduzir no mesmo filtro tudo quanto o Papa pudesse dizer, fosse ou não relacionado com o assunto que os jornalistas gostariam de ver abordado. Daí que se torne claro que estamos perante novos «farisaísmos», cuja atitude em nada se distancia daqueles da primeira hora. A Igreja não é uma estrutura intocável, pois ela própria se reconhece «santa e pecadora» (LG. 8); mas é inexpugnável, porquanto é mistério de fé e tem na sua base o dom da própria trindade! (cf. LG. 2 – 4).

Mas, não nos deixemos iludir: entre nós o ataque vai continuar e, porventura, até intensificar-se, pois estamos em pleno período Pascal e o Papa visitar-nos-á muito em breve.

Pena é que não aproveitemos a mensagem profundamente humanizadora – cuja necessidade se faz sentir de forma tão profunda na sociedade portuguesa dos nossos dias – de que o Papa, de forma tão lúcida e veemente, se torna verdadeiro arauto!

Padre Carlos Alberto da Graça Godinho


Missas da Semana

Dia 13 – 3ª Feira
18h00 – Igreja da Rainha Santa Isabel, seguida de atendimento.

Dia 14 – 4ª Feira
21h00 – Capela da Cruz dos Morouços.

Dia 15 – 5ª Feira
18h00 – Igreja da Rainha Santa Isabel, seguida de atendimento.

Dia 16 – 6ª Feira
18h00 – Igreja da Rainha Santa Isabel, seguida de atendimento.

Dia 17 – Sábado
16h30 – Missa vespertina, na Igreja da Rainha Santa Isabel.

Missas de Domingo

Dia 18 de Abril
09h00 – Capela da Cruz de Morouços
09h30 – Capela das Lages
10h00 – Capela do Bordalo
11h00 – Igreja da Rainha Santa Isabel


Avisos:
- O ofertório das missas do próximo domingo é para a Acção caritativa da Paróquia.